Perais é a maior e mais progressiva povoação da freguesia a que pertence.

Situada próximo das ribanceiras do Tejo, no sul da Beira Baixa, a aldeia de Perais tem as coordenadas geográficas de 39° 40′ (norte) e 1° 33′ 30” (leste) referidas ao Castelo de S. Jorge em Lisboa, ou 7° 34′ 30” (W) referido ao meridiano de Greenwich.

Dista por estrada (nº 18 e 355) 12 quilómetros de Vila Velha de Ródão que lhe fica a ocidente, e 28 kms, também pelas mesmas estradas, da cidade de Castelo Branco que lhe fica a nornordeste e é capital de distrito do mesmo nome e da província da Beira Baixa.

Perais é a sede da freguesia de Alfrívida cuja área é limitada ao sul pelo rio Tejo, a leste pelo rio Ponsul, a norte pelas freguesias de Benquerenças e de Cebolais de Cima, do concelho de Castelo Branco, a noroeste pela freguesia de Sarnadas e a ocidente pela freguesia de Vila Velha de Ródão, cabeça do concelho.

Com excepção da parte limítrofe da freguesia de Vila Velha, as terras adjacentes têm maior altitude, materializada pelas “Barreiras”, cordilheira pouco alta, mas acidentada, que a NO da área da freguesia mostra o abaixamento dos seus terrenos e define a falha geológica que os atlas assinalam.

Esta serrania tem origem na região Portela-Sarrasqueira, e orientada para leste vai até Maxiais, por Alfrívida, passando a Sul de Sarnadas, Retaxo e Cebolais, pelo que estas industriais povoações são designadas genericamente por “Terr’Alta”.

Em contrapartida os habitantes destas aldeias designam as terras da freguesia de Alfrívida por “Ribeira” e Terra Baixa”, em virtude, decerto, não só da existência das ribeiras do Locriz e de Alfrívida no sopé do agigantado degrau que as “Barreiras” formam, mas também, e talvez por mais forte razão, devido à grande depressão que toda a freguesia é, na bacia imediata do Tejo, engastada na margem direita deste rio, desde a foz do Ponsul até ao cachão do Algarve que marca o vértice sudoeste da sua área.

Nesta região fortemente arborizada de oliveiras, azinheiras e sobreiros, existem com relativa abundância vestígios a assinalar as pegadas de gentes remotas. A atestar a passagem dessas gentes por estas latitudes, aí estão várias antas, um castro luso-romano, duas estações romanas, o aparecimento duma inscrição romana (levada pelo seu descobridor, Dr. Francisco Tavares Proença Junior, para o Museu de Castelo Branco), muitos objectos de pedra polida e outros, usados pelos povos primitivos.

Perais. Esta palavra leva-nos à conclusão fácil de que a povoação foi começada em região de abundantes pereiras, onde estas árvores predominassem sobre qualquer outra espécie.

Com efeito, o pereiro bravo, pelas amostras que ainda presentemente se verificam, devia figurar em terceiro lugar a seguir ao azinheiro e sobreiro, quando da chegada dos primeiros colonos à localidade, mas estas duas espécies eram talvez consideradas como mato.

Outras árvores de fruto, hoje espalhadas em número apreciável, não as devia haver no sítio e só mais tarde seriam trazidas pelos habitantes que se iam fixando. A própria oliveira, agora tão numerosa, decerto não existia na época dos primitivos habitadores.

Assim, estes, gente simples e rude, só com o hábito do trato da terra, começaria a designar por Perais o local onde havia muitas pereiras, mantendose a denominação para o povoado, sua nova Pátria.

Hoje, porém, as pereiras que provavelmente deram nome à aldeia, estão muito longe de predominar na flora da região, e se agora houvesse que baptizar a povoação segundo a espécie arbórea predominante, excluído as azinheiras como teriam feito os fundadores, ser-lhe-ia dado o nome de Olivais.

– Podia também o nome de Perais ter sido herdado do apelido dos primitivos habitantes; mas esta hipótese não se afigura muito provável pois nem nos tempos mais próximos nem remotamente, há lembrança ou registo, de que aqui tivesse vivido alguém com apelido análogo.

– Outra hipótese também improvável é a de que Perais tenha derivado de “perau” que significa linha inferior da margem onde começa o leito do rio, etc.

Podia ser que em tempos afastados, quando o homem tinha necessidade das habitações lacustres, não as construíssem na região, além do perau, em virtude da profundidade e corrente do Tejo. Deste modo a habitação construída no perau passaria também a ser designada assim, donde “peraus” e mais tarde Perais.

Primeiramente a actual sede da freguesia de Alfrívida chamava-se Monte dos Perais, e não como hoje, simplesmente Perais.

Origem

A fundação de Perais, envolta na bruma dos tempos, remonta pelo menos à época da Restauração ou, mais provavelmente, à dominação Filipina, em que houve acréscimo na população portuguesa e a supressão de facto da fronteira, facilitava a fixação de colonos nas regiões suas limítrofes.

Mas qual terá sido a origem de Perais? O primeiro homem que aqui fixou residência teria sido agricultor ou stalajadeiro?

Pela geral inclinação para as actividades agrícolas, dos habitantes de Perais, parece que este hábito lhes teria ficado dos primitivos desbravadores queforam seus antepassados.

Mas por outro lado existiu na região de Perais uma estação romana e é também verdade que aqui houve uma estalagem, no extremo sul da aldeia.

Alem disso, anteriormente, existiu ao cimo das barreiras do Tejo, próximo da fonte da Telhada, uma outra estalagem onde se acomodariam os almocreves ou outros viandantes que da Beira se dirigissem para o Alentejo e que o obstáculo do rio obrigaria a uma paragem ali.

A designação de fonte da “Telhada” é a forma abreviada de fonte da “Casa Telhada”, pequena povoação que até ao princípio do século XIX existiu no local, e que por certo devia ter tido, durante anos, a única casa da região com cobertura de telha.

Esta teria sido a primeira casa onde se fixaram os primitivos habitantes da região, e, em virtude dela, outros homens seriam atraídos, tendo-se fixado no local mais acessível de Perais, um quilómetro a nordeste, dando origem à povoação.

Outra versão da origem de Perais, que uma vaga lenda foi transmitindo até aos nossos dias, é a de um seareiro que teria vindo talvez da Sarrasqueira ou possivelmente dalguma povoação da serra do Perdigão. Este primeiro desbravador dos grandes matagais que então existiam, ter-se-ia fixado nacolina onde actualmente fica a rua de Cima. Acossado pelos lobos este homem tencionou abandonar o lugar, pois tinha que passar as noites com grandes fogueiras acesas, para manter as feras em respeito. O alerta constante no meio de perigos cansava-o e não podia continuar indefinidamente. Mas entrementes, decidindo ficar, construiu para si e para os seus a mais velha casa de Perais que será uma das três que existem no lado poente do largo da rua de Cima e que pertenceram a José Domingos, José Ferro (sapateiro) e João Castiço.

Ainda terceira hipótese da origem de Perais:

No local devia ter existido uma muralha sita dentro do trapézio que agora constitui o coração da aldeia, e que tem por extremos da diagonal nascentepoente, o forno público e a casa de Paulina Rodrigues, à volta da qual se teriam levantado algumas casas. Esta parte central da povoação nem sempre se apresentou com a forma actual. Entre a quelha do Reluto, em frente da casa de José Rodrigues (grande), e a rua do Forno no prolongamento da estrada, houve, ainda não há muitos anos, uma pequena quelha, por altura da habitação de Catarina Dias.

A quelha que está situada onde o paredão teria existido e que a tradição nos legou com o nome de Reluto, permite-nos admitir que no local houve em tempos idos, uma muralha defensiva, um “reduto”, a cuja protecção se acolheriam os habitantes das redondezas quando atacados e sem possibilidades de resistência em campo aberto.

A existência da quadrela em Perais não deixa de ser razoável devido à proximidade da fronteira, com os espanhóis a leste, e anteriormente com os mouros a sul.

Desta maneira a quelha referida parece que deveria chamar-se do Reduto, mas a voz popular deturpando a designação faz-nos aparecer Reluto, do que aliás nenhum prejuízo adveio.

 

Joaquim Pereira Vaz